é assim que termina. com a vida acontecendo.

estou me sentindo exatamente como Clarice Lispector escreveu:

meu desejo mais obscuro era dar minha cabeça para alguém dirigir. que alguém me dissesse todos os dias: hoje faça isso, hoje corte isso, isso está bom, isso está ruim. uma pessoa que quisesse tomar minha direção.

naquele dia eu morri. enterrei-me sozinha. e a única pessoa a rezar por mim fui eu mesma. eis o epítome da solidão.

quando me encontrar, perceberá que não estou inteira. direi a você, então, que deixei porções de mim pelo caminho. me perguntará, em seguida, se não é desejo meu voltar para buscá-las. chorarei um pouco depois. saberá que somos uma união das últimas porções que nos restaram.

ai, que saudade de me apaixonar. de ler poemas e associar um nome, enviar músicas e playlists, salvar reels românticos que nunca serão enviados, rir de posts bregas, rir dos devaneios, da desatenção às 16h da tarde, da expectativa da mensagem e do sorriso aberto quando ela chega.

minha solidão não tem um rosto. traz com ela muitos nomes e nenhum deles é o meu. certas noites me encara com olhos gigantes como se fosse eu quem a assustasse. quando raivosa ela me morde inteira, com a boca recheada de dentes, todos feitos de sal, lembranças e despedidas.

qual palavra da língua portuguesa é a sua favorita?

tão estranho não se sentir prioridade de ninguém, sei lá, causa um sentimento de se estar despencando no mundo. uma sensação de ter sido empurrado no vazio do espaço sem certeza nenhuma de uma força contrária que te faça voltar.

é uma experiência perceber que somos extremamente carentes de trocas afetivas reais e por isso nos lançamos ao mínimo sinal de afeto compartilhado na esperança de que essas trocas pingadas sejam motivo de uma alegria diária ao nos fazer sentir minimamente vistos e abraçados.

sinto saudade de sair de casa com aquela pressa de viver. de atravessar as ruas com a esperança de encontrar a alegria na esquina de alguma catedral e me contentar com os vislumbres de eternidade que apavoram a melancolia – sinto falta da felicidade entrando pelas minhas frestas.

a saudade é um peixe vivo se debatendo atordoado dentro do meu peito. mergulhamos tão fundo, eu e você.

quero fazer outra faculdade falar mais dois idiomas fazer dois mestrados ter mais de cinco pós-graduações quero fazer doutorado quero publicar um livro quero assistir todos os filmes do mundo quero ler cem livros em um ano quero fazer um intercâmbio quero ganhar na loteria

honestamente, me sinto cansada de sentir frustração o tempo todo. de sentir que fiz todas as escolhas erradas do mundo. sinto exaustão ao sentir o desejo de voltar no tempo e fazer tudo diferente. me desgasta a sede insaciável de começar do zero aos vinte e poucos anos.

Feliz Páscoa. 🤍

te amei um amor tranquilo. bebi tuas lágrimas como se fossem minhas e sonhei teus sonhos como se fossem meus. entrei em ti como um verme faminto e roí a amargura que te acometia. hoje passei em silêncio pela tua janela e encarei teu olhar de quem há muito não me conhecia.

a saudade é como um pêndulo preso à garganta, oscilando em torno do ponto fixo que é o coração. neste doído movimento oscilatório e periódico, a saudade vem e vai. estou preso nesta agonia pendular por sua causa. e ficarei aqui até que eu reencontre a mornidão do seu abraço.

quando Clarice Lispector escreveu “não façamos esforços inúteis, pois o amor nasce ou não espontaneamente, mas nunca por força de imposição” fazendo-nos entender que quando tivermos feito tudo para conseguir o amor, e falhado, resta-nos um só caminho: o de nada mais fazer.

quando tristes, a vida é tempo demais. quando alegres, a vida é tempo de menos. existir é estar sempre entre a pressa para viver e a ânsia de viver breve.